Isso já faz algum tempo. Acordei pensando em como era bonito o nosso amor.
Foi tudo muito intenso, carregado de emoções das quais nenhum de nós dois sabíamos bem como lidar. Conversávamos sobre tudo. Ingenuidade nossa achar que isso seria suficiente. Parecia que nada no mundo seria capaz de nos afastar.
Você falou que me amava logo de cara e se gabava de ter dito essas três palavras primeiro. Confessou depois que teve medo de que não houvesse reciprocidade. Mas eu já te amava desde o primeiro minuto.
Observava o meu dedo anelar sob a justificativa de que precisava conferir o tamanho correto para comprar a nossa aliança. Queria saber do meu vestido para o nosso casamento. Eu ria, te observava em silêncio enquanto já sonhava em contratar o cantor (das músicas que dedicávamos um ao outro) para a festa.
Teríamos filhos, cachorros, muitos livros. Você dormiria com seu corpo quente do meu lado todos os dias. O romance ideal, eu me via criando novos mundos com você. Quem me vê hoje jamais imaginaria que isso tudo passava pela minha cabeça.
Você me pediu para esperar, precisava de uns anos para que nós dois pudéssemos crescer e viver tudo isso. Era tão bonito o nosso amor. Daria um filme.
Acreditei em cada sílaba de tudo que saía da sua boca. Tratei nosso amor como um encontro de almas, mesmo duvidando que existia isso que chamam de almas. Você dizia: “cada vez mais eu percebo que eu sou tu. E você sou eu”.
Foi um sonho. Mas foi muito real.
Eu tremia com sua voz ao telefone.
Tínhamos nossos jogos, nossas piadas internas. Nossos assuntos eram infitinos. Os dois sempre testando os limites um do outro. Loucos. Exploramos nossos corpos com aquela sensação misturada de descoberta com re-conhecimento.
Era tão bonito o nosso amor. Teve quem viu e confirmou. Que até nossos sorrisos combinavam, que nós dois fazíamos o mundo mais bonito e feliz. Outros previram o tombo e tentaram me alertar - o que, obviamente, eu ignorei.
Um dia tudo isso virou nada ou pouca coisa. Meus sonhos derreteram como cubo de gelo no asfalto quente. A realidade, sempre ela. Sofri muito, como nunca tinha sentido na vida. Uma dor que chega a ser física, se espalha pelos ossos, viaja pela corrente sanguínea. Doía até o cabelo. Eu era jovem e acreditava que tinha vivido alguma coisa em matéria de amor.
Inocente. Eu não sabia de nada.
Não sabia que esse amor tinha me transformado. Não sabia que eu precisaria conviver com esse pedaço de história dentro de mim. Não sabia que por algum tempo eu procurei outros que trouxessem 1% de você. Que por muito tempo eu senti sua falta.
Você dizia que não importava o tempo. Poderia passar um ano, um mês, um ou dez anos. Tinha certeza de que teríamos um ao outro para sempre. Talvez ainda tenhamos.
Você disse que também sofreu, amou, viveu. Depois de todo esse tempo, me pego rindo de vez em quando da minha pressa juvenil. Mas tem dias em que eu acordo pensando. Era tão bonito o nosso amor.